terça-feira, 30 de novembro de 2010

De arte e de artistas



Nossa segunda semana de filmagens termina hoje, segunda-feira.
O filme, cuja realização vamos verificando através dos monitores no set de filmagem, está ficando mesmo uma beleza! Zé Mauro de Vasconcelos, autor do romance no qual Marcos Bernstein e Melanie Dimantas se inspiraram para o roteiro, estaria muito orgulhoso de ver o tratamento que sua obra máxima está recebendo.
Como já foi dito neste blog, um filme é tal e qual a uma colcha de retalhos, onde o resultado final é ainda maior e mais significativo que a soma de cada uma de suas partes. Tal qual uma receita que, executada por pessoas diferentes, apresenta resultados diversos, um filme também contém ingredientes impalpáveis, sutis e fundamentais para o seu resultado: amor, talento, dedicação.
Cada cena é tratada com o máximo respeito e carinho. Cada tomada visa extrair a mais indicada das emoções dos atores. Cada cenário, cada elemento de cena, tem uma função estética que possibilite a imersão do espectador no universo lúdico do autor e dos seus personagens.
Bia Junqueira, diretora de arte do "Meu Pé de Laranja Lima" é uma verdadeira esteta. Artista completa, seu olhar extrapola o lugar comum, transformando objetos, ambientes e paisagens num mundo à parte. Um universo de símbolos e signos que são redescobertos nas coisas mais simples, nos detalhes mais corriqueiros, nos artefatos do dia a dia.
Sua incansável equipe transforma ruas, vielas e estradas em mais do que meros caminhos a serem percorridos pelos personagens do filme, mas em verdadeiras rotas que os conduzem à realização de seus destinos.
Uma mesa de cozinha, por exemplo, em suas mãos, deixa de ser um mero utensílio doméstico para tornar-se uma preciosa composição de elementos onde se ritualiza a união e celebra-se o amor familiar.
Uma padaria, para ela, jamais será um mero estabelecimento comercial. Em seu lugar, surge um lugar onírico onde somos conduzidos, através de seus recursos artísticos e de sua encantadora paleta de cores, a vivenciarmos sabores, aromas e texturas das mais deliciosas guloseimas.
Um vestido, uma camisa, um par de sapatos passam a ser, através de seu mágico olhar, mais do que uma extensão do próprio corpo dos personagens. Quando os olhamos, e nos deixamos conduzir pela suas harmonias de tons, pelos detalhes inusitados de seus acessórios, pelas estampas que parecem ter sido feitas especial e unicamente para atender a seus pedidos, entendemos mais e melhor a alma de cada indivíduo que vemos recriado na tela.
Bia Junqueira é uma artista, como artistas são o fotógrafo que compõe enquadramentos carregados de drama, técnicos que captam o som dos diálogos e dos silêncios entre eles, maquiadores que forjam ilusões. Artesãos altamente criativos e gabaritados são os maquinistas, os carpinteiros, os aderecistas, os pintores, os condutores, as costureiras, os iluminadores, os eletricistas, que contribuem, a cada cena, para que um sonho saia do papel e se torne real.
Orquestrando tantos talentos e competências, o diretor: artista que antevê a obra final e que se entrega inteiramente na sua concretização.
É por isso tudo, e muito mais, que ao final desta semana de trabalho, Minguinho, o modesto (mas atento companheiro e sábio na sua inocência) pé de laranja lima, agradece a todos que, em suas especialidades e com tanto empenho e sensibilidade, estão contando a sua história e aventuras com seu amigo Zezé.

Imagem: Bia Junqueira (foto de autoria não identificada)

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