domingo, 12 de dezembro de 2010

No coração da mata



Neste domingo, dia 12, toda a equipe esteve reunida para a filmagem de uma das cenas mais emocionantes do "Meu Pé de Laranja Lima". O local escolhido pelo diretor Marcos Bernstein, pela diretora de arte Bia Junqueira e pelo diretor de fotografia Gustavo Hadba foi o pedregoso leito de um rio que alimenta a centenária Usina Maurício, da antiga Companhia Força e Luz Cataguazes-Leopoldina, atual Energisa, situada  em Piacatuba, distrito de Leopoldina-MG.
O cenário não poderia ser mais impactante em seu conjunto de forças, onde os elementos da natureza parece terem se mesclado para criarem um intocado mundo perdido. Como se o tempo não existisse, a mata eleva-se em sua exuberância em camadas de verdes até sumir no horizonte montanhoso. O solo rochoso faz fendas e recortes que mais parecem os de uma paisagem lunar, na pureza da aridez de seus traçados: decalcados nas pedras, a escrita de milhares de anos de águas correntes, formando, ora corredeiras, ora piscinas naturais.
Um silêncio quase religioso se instaurou em todos nós que ali contemplávamos esse Éden primitivo, agressivo em sua ancestral imponência. Só o ruído das águas, em seu eterno caminhar para o oceano, podia ser percebido. Nem um outro som, nem mesmo o dos pássaros e cigarras, como se estivessem escondidos, quietos e atentos à nossa invasora presença, observando com estranheza nossos movimentos e nossa maquinaria.
Observando o local, bem conservado resquício da Zona da Mata, das florestas que recobriam toda essa região, compreendemos a sua escolha para essa importante cena do filme. Ali estavam reunidos os símbolos concretos das emoções vividas pelos personagens. A água corrente, fluindo e contornando obstáculos, aparentemente brilhante e refletindo a luz do sol, mas profunda e cheia de segredos, como são os nossos sentimentos. A realidade, nem sempre bem vinda, que o mundo físico nos impõe lá estava no áspero contorno de milhares de pedras de todos os formatos e tamanhos. Às vezes pedregulhos, como os pequenos incômodos do dia a dia, às vezes grandes e planas lascas, como a segurança que tanto almejamos. A luz filtrada pelas copas das centenárias árvores formavam manchas, como se com suas labaredas o sol também quisesse participar daquele espetáculo da Criação.
Nesse oásis encapsulado no tempo, o pequeno Zezé (João Guilherme) faz uma pungente revelação ao seu amigo Portuga (José de Abreu). Um dos pontos culminantes do "Meu Pé de Laranja Lima", a beleza selvagem do lugar e o drama de Zezé ficaram, então, registrados para sempre no celulóide e também nos olhos e almas dos que ali estavam criando esse momento mágico. 

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